sexta-feira, 28 de março de 2014

DESAPEGO

foto do sensacional ig @alijardine


"O que tem de ser tem força. AMÉM PRO BEM" (texto roubado descaradamente da Isadora, do ótimo Oi Divã!)

Dai que parece que o verão realmente se foi (e tarde), então comecei a retirar as roupas de inverno do armário para tomar um sol, tirar bolor e cheiro de naftalina, aproveitando para doar várias coisas. Só que durante este processo descobri que sofro para praticar o desapego.

Sou ridícula.

Tem roupas que não me servem nem por decreto (são da época em que eu pesava ATENÇÃO => 30 QUILOS A MENOS) e, francamente, não me servirão pelos próximos meses, se é que me servirão um dia. E, provavelmente, se e quando servirem, estarão totalmente demodé. Para que fazer isso? Só ocupa espaço, fica lá juntando mofo, entupindo o armário de inutilidades.

Porque se você guarda algo para você que não tem utilidade, você chama isto do que? Esperança? Apego? Apego a que? A um passado que já foi? A uma ideia que, convenhamos, já morreu?

Impressionante como guardamos trabalhos, situações, GENTES que não nos agregam niente. Nada! E insistimos nisto... Ficamos lá, ajoelhados no milho, esperando que o que foi bom em algum momento retorne.

Ele não volta! E se voltar, será diferente: você é outra pessoa, o outro também, o local, ar, árvores, vento...

Então fiquei lá com aquela calça jeans linda de viver mas impraticável de vestir em mãos, pensando no que fazer da vida. Juntei-a então a uma montanha de roupas de uma época que já foi e não mais será. Notei que tenho livros e papeis e acumulo coisas suficientes para ter que me policiar e não ser um episódio do programa Acumuladores. Não jogo fora as coisas, prefiro deixá-las esquecidas em um canto, mesmo sabendo que no dia do surto psicótico da limpeza jogarei tudo para fora pensando "pra que que eu guardei isto?"

O que fiz? Posterguei! Enfiei tudo de volta no armário e fechei a porta rápido, confesso que ofegante.

E fiquei pensando: se sofro tanto assim para let go simples roupas antigas, o que isto diz sobre mim? Por que continuar alimentando - ou mantendo à vista, que seja - coisas que já expiraram o prazo de validade?

Por que insistimos em manter o passado à espreita? 

Por que insistimos tanto no que já foi?

Por que eu faço isto comigo?



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