segunda-feira, 4 de março de 2013

Gostos Desconexos


"Toda reflexão é uma porta para a verdade." (Danilo Francoia, no Mania de Citar)

Eu assisto BBB (Big Brother Brasil para os não familiarizados com a sigla). Aliás, não só assisto, como gosto de BBB. Ai você, caro leitor que não sabia disso, já faz cara de "afff" e muda de blog. Ok, direito seu. Mas ai eu te pergunto: você faz isso sempre? Digo, se a pessoa gosta de algo que não é considerado cult ou inteligente pelos padrões adotados (aliás, quem é que escolhe o que é in e out?) ou pelos seus padrões, esta pessoa não serve? Ela é menos?

Quem é intelectualizado não pode gostar de BBB, Carnaval, programa do Ratinho e afins? E o oposto também vale? Se você não teve oportunidade de conhecer autores consagrados, se não teve acesso à dita "cultura", você é menos por isso, um ET por gostar de Mozart? Ou pior, se você teve acesso a museus e livros e viagens e etc, por gostar do não convencional você é pior do que todos os outros juntos? Really?

Por que a pessoa não pode gostar de Paulo Coelho? Quer dizer que a pessoa só é _____ (preencha com a palavra mais adequada) se gostar de Machado de Assis, Nietszche e afins? Então quem mora em locais paupérrimos não pode gostar de ópera? Por que é necessária a exclusão de outras possibilidades quando se adota uma?

Uma vez vi um video de Chimamanda Adichie, uma escritora nigeriana que se disse surpresa quando foi estudar nos EUA e a sua colega de quarto ficou admirada de ela: 1- ter estudado; 2- saber falar inglês e 3- conseguir pagar e estudar em uma faculdade nos EUA. A amiga dela tinha uma visão pré-estabelecida pelo que obteve de informações durante a vida, considerando a Nigéria um país pobre de subnutridos analfabetos. Chimamanda diz que é perigoso ter apenas uma estória, um lado da estória. E que estas estórias incompletas são perigosíssimas, por poderem se alastrar e se tornarem verdades.

Acho que o que quero dizer é que muita gente tem estórias incompletas na cabeça, por imposição ou falta de percepção disto. Se é A, não pode ser B. E isto limita. Os pensamentos, os conceitos, a Vida. Eu posso sim escolher e fazer misturas loucas, gostando de coisas aparentemente desconexas. Aliás, me questiono se estas desconexões não são tentativas de nos dar apenas um lado da estória. Já parou para pensar nisto?

Procuro me policiar para não cair nestas armadilhas externamente impostas. E dai se eu quero usar terno com chinelo de dedo? Sou doida por misturar coisas que não combinam? Quem decidiu isto? E porquê raios tenho que ser como todo mundo? Se não sou como todo mundo sou errada? Se eu não me incomodo com o terno + chinelos, por que o mundo se incomodaria?

E se eu quiser gostar de BBB, acredite, não sou fútil por este motivo. E também não te considero um poço de cultura/inteligência/superioridade só porque na hora do programa você muda para um filme tcheco passando sem legendas no Canal 1.Aliás, se você me acha menos por gostar de BBB, minha única opinião sobre você é: você é limitado. Incompleto. E, no fundo, sinto muito por isso...

Beijos e uma ótima semana a todos. Que seja infinitamente melhor do que a anterior... Com menos limitações auto-impostas, se possível...

PS - o vídeo que citei é este aqui. Vale a pena!

2 comentários:

  1. penso que nós, cerumanos (rs), temos esse desejo visceral e descabido de rotular tudo e estabelecer padrões. e concordo contigo, ka. é limitador ditar gostos quando se tem TANTA diversidade pra ser vivida e experimentada.

    e ó, jabutigrama is gone for good! ufa. =)

    beijoinsone, querida!

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