quarta-feira, 27 de março de 2013

Maira, o medo e a coragem


"Saudações a quem tem coragem" (Frejat)

Ouvindo a música mais linda que existe, aqui...

(adaptada de situações reais)

Conheci Maira da seguinte forma: eu precisava desesperadoramente que alguém me assinasse um papel para eu não perder minha bolsa de estudos, ela precisava desesperadamente de uma assistente nos trabalhos. Em comum, Mari, a secretária, a que nos uniu por um telefonema. Aperto de mão selando o "negócio", vida que segue, ambas felizes.

Maira era muito parecida comigo. Ambas erramos nossos cursos de graduação e a partir dai lutávamos para nos reposicionarmos no que achávamos ser o caminho certo para nós. Ela também era coxinha, meio durona e sem jogo de cintura no trato pessoal (como eu), gaúcha de sotaque forte. Tenho uma relação de amor com os gaúchos, já que adoro aquele povo. Vai saber, né? Sua estoria: ela abrira mão da carreira, família, emprego, por causa de um amor. Ele abriu mão de um casamento com três filhos por ela. Ambos pegaram suas tralhas e se mudaram para São Paulo. E eu a conheci neste momento de necessidade mútua. Engraçado como a Vida, a fanfarrona, atua, né?

Entre nós duas, dez anos de diferença. Aprendia com e me inspirava nela. Sempre nos demos bem. Ela bem mais racional do que emocional (como eu - acho que - sou). E neste ínterim o relacionamento com o "amor" desandou. Ela sem saber o que fazer, já que pessoas racionais perdem o prumo quando a emoção toma conta. Saída? Delegou trabalho para mim, pegou suas coisas e foi para Fernando de Noronha. (Um adendo importante: sabe aquela estória de que nos adaptamos aos nossos amores, as vezes até mudando de crença e time de futebol? Então, o "amor" mergulhava. Ela fez curso, tirou carteirinha e até virou instrutora).

Perto da volta dela, recebo um e-mail curto e grosso: "Se vira ai que ficarei mais tempo por estas bandas." O que seria uma semana virou quinze dias que virou um mês. Um dia, recebo o e-mail: "Resolve as coisas por ai porque eu não volto mais." Só isto. Falar ao celular, nem pensar. Fiz o que podia, assinei o que dava, ela me passou instruções e uma procuração. O que sabia era o que ela tinha escrito. Ainda bem que não sou curiosa...

Algum tempo depois descubro que ela havia arrendado um barquinho e passou a trabalhar levando turistas para mergulhar. Morava nos fundos da casa de um morador local, vestidinho e bermuda, chinelo de dedo e teto sem forro. Estava e parecia estar feliz. Abandonou de novo uma puta carreira, um puta salário, um puta apartamento, um puta tudo, e foi atrás do que achava que a deixava feliz.

Não soube mais dela. Apesar de doutora por universidades estrangeiras, ela não tem twitter, facebook ou e-mail (os emails que eu enviava passaram a retornar como "remetente desconhecido"). Achava que estava em Noronha, trabalhando e vivendo. Buscando. Até que recebi uma carta.

O destinatário era de algum lugar perdido em Bali. Dentro, uma foto dela queimada, com um filho nos braços e um homem ao fundo. Típica foto de porta-retratos em salas, sabe? Ela feliz, sorrindo, atrás deles apenas o mar. Lá dentro, poucas linhas dizendo: "estou bem, minha amiga. E nunca me esqueci que você colecionava imãs de geladeira. Então aqui vai mais um para sua coleção. Com muito amor. Maira"

Estou olhando para o imã neste exato momento. Não sei porque mas me lembrei de você hoje. Espero que esteja bem. Obrigada por tudo. Obrigada por ter me ensinado tanto. Obrigada por ter tido coragem e ter me mostrado que sim, é possível. Te desejo, com toda a minha força, que você SEJA FELIZ. Eternamente e mais um dia. 

Com muito amor, 

"sua eterna estag".


3 comentários:

  1. é, amiga,
    "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
    queria ser Maira.
    bj.

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  2. Semelhantes se atraem. Se você atraiu a interessantíssima Maíra, é porque você é como ela (só repetindo constatações - que você é especial eu já sabia).

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  3. Nunca soube se histórias como essa me deixam mais triste ou feliz. É uma mistura de admiração e vergonha. Quiça um dia eu... corajosa a ponto de buscar a felicidade ao invés da comodidade.

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