"A Fifa nos informou que nós teríamos 29 segundos para realizar um experimento dificílimo. Nunca ninguém fez uma demonstração em 29 segundos de robótica. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Foi um esforço dramático de todas essas pessoas que estão aqui. E nós realizamos em 16.” (Miguel Nicolelis)
"Sempre existe um caminho e sempre existe esperança para aquele que acredita e para aquele que sonha" (Juliano Pinto)
Tudo isto vemos e lemos e acompanhamos em tempo real ontem. O que gostaria de salientar é bem mais simples e representativo do que isto:
Pela primeira vez na História, um paraplégico conseguiu mover suas pernas através de um exoesqueleto, e isto tudo através da mente. Aliás, de duas mentes: do moço que realizou o feito e do Nicolelis, pesquisador brasileiro que está nesta empreitada em seu laboratório lá no Nordeste há anos.
Falaram que o moço andaria 25 metros antes do chute inicial, e vi comentarista fazendo piadinha "nossa, achei que ele fosse dar embaixadinha, bater uma bola com o Neymar, etc". Quero crer que a pessoa estava embrigada pela vitoria, para não considerá-lo desrespeitoso, no mínimo.
Pessoas, parem e pensem: através de algo externo a seu corpo, alguém usa apenas o seu pensamento para mover uma perna paralisada por um acidente. Pessoas que perderam os movimentos poderão, futuramente, andar. Algo tão básico né? Básico e automático, talvez por isto não noticiado com a importância devida.
Vivo no meio acadêmico, e sei das dificuldades de se fazer ciência por aqui. Nicolelis certamente poderia ir para o exterior, onde vários pesquisadores brasileiros encontram condições de trabalho necessárias. Não reclamam que nunca fazemos nada, que aqui é só pão e circo?
Então por que quando a gente faz algo inédito no mundo, algo totalmente made in Brasil (meu Brasil é como o da Mariana Weickert, com "s"), isto não é divulgado mundo afora? Ou pior, o é, mas com piadinhas no bolso?
Se o Brasil ganhará a Copa, os problemas aqui existentes, se os estádios virarão elefantes brancos, tudo isto é manchete grande perto do que realmente deveria receber os holofotes. E poucos se deram conta disto...
Que pena.
E shame on us por isto acontecer.
E que, longe dos aplausos e visibilidade merecida, Nicolelis continue seu trabalho. Que sua pesquisa de décadas se desenvolva cada vez mais e ajude aqueles que precisam. Gente como eu e você, que viram o destino tomando um atalho durante suas vidas e por isto tiveram que apelar para um plano B.
Gente, que, em um espetáculo global, teve sua participação mostrada em menos de 16 segundos. Mas que ali, neste tempinho, nos mostrou que sim, temos jeito. Mesmo que as câmeras estejam focadas na parte menos espetáculo da coisa.
PS - Nicolelis, o que falta é que você vire corinthiano... Mas ai é querer demais, né?
PS2- o nome do moço que chutou a bola é Juliano Pinto, 29 anos, que tem paraplegia completa de tronco e membros inferiores.
para ler mais sobre o assunto leia aqui, aqui ou aqui.
Eu fiquei muito frustrada com o que aconteceu. A emissora aberta, ou seja, a que tem maior alcance não deu a mínima para o que ia acontecer. Preferiu dividir a tela, mostrar o busão da seleção chegando.
ResponderExcluirEu me recusei a acreditar que eles tinham "perdido" o principal da festa (festinha meia boca, por sinal). Fiquei muito indignada e triste.
Como você disse, quando a gente finalmente faz algo digno de todo louvor, puxa saquismo exacerbado e orgulho no peito canarinho messssmo, só vemos a total desimportância que foi dada ao fato. É de chorar.