sorte, azar, destino

Ouvindo isso aqui.

B. decidiu em janeiro que a vida que levava não era para ela. Assim, sabe quando a gota d'água acontece? No caso dela, esta gota d'água foi um desentendimento com uma colega de trabalho. Chegando em casa, viu que não queria mais pagar aluguel, queria mudar. Então ali decidiu. Duas coisas engraçadas: a primeira é que, menos de seis meses depois disto tudo, B. mudou de emprego e comprou um apartamento. Achou o apartamento perfeito, isto em época de imóveis super valorizados. Se muda em seis meses porque ele é novo, está em fase final de acabamento. Sim, também jogou o CV no mercado e arrumou outro emprego melhor, em todos os sentidos. Ah, a outra coisa engraçada? A segunda coisa engraçada é que ela reza todos os dias agradecendo e pedindo que a maré de sorte continue para ela encontrar o cara da vida dela.

Lúcio Flávio tem nome de artista de novela, mas é um copeiro no Rio de Janeiro. Ele sempre foi o responsável por comprar bilhetes de Sena, Quinta, estas pataquadas todas, para os funcionários do bar onde trabalha. Num dia em que não tinha dinheiro para o ônibus, ele não entrou no bolão. E perdeu $635 mil reais. Sua frase "não existe azar, existe destino". E segue a vida trabalhando, já que todos os "amigos" saíram do serviço que acumulou. Chorando e engolindo a raiva e a tristeza, tudo por culpa desse tal destino...

Estas duas estórias são reais. Sim, são reais. Mas a frase que mais me chama a atenção é a de Lúcio Flávio. Não existe azar, existe destino - ponto final. Ou seria não existe azar, existe destino -interrogação. Confesso que ambas as frases me causam um certo desconforto. Porque se existe destino, no fundo eu não controlo nada e sou expectadora diante da vida. Controlo apenas como reajo ao que já está escrito. Se existe azar, tem gente que leva ela embrulhada dentro do bolso. Neste caso eu controlo mais as coisas, mas se o azar se bandeia para o meu lado, o que eu posso fazer? Arruda em certos casos não resolve. Nem sal grosso. Sabe?

Eu não sei. Não consigo me colocar no lugar do moço. Não sei o que se passa na cabeça dele. Sei que o caso dele é um daqueles que me põe para queimar massa cinzenta. E, no final, volto ao ponto de partida. Tudo na verdade para inserir minha vidinha no contexto... Se for destino e não tiver que ser, então não será e estou perdendo meu tempo... Se for destino e tiver que ser, também estou perdendo meu tempo, já que poderia usar o tempo em que luto pelo que quero para ler os livros maravilhosos que me dei de presente...

Não tenho opinião formada. Só peço forças para seguir adiante. À B., caso exista sorte, que sua maré continue por muitos e muitos anos. Se for para ser, que assim ocorra. Quanto ao Lúcio Flávio, minha solidariedade. E obrigada pela frase que martelará na minha cabeça pelos próximos dias... Não sei se existe azar, mas caso você exista, te convido veemente a seguir seu rumo e me deixar quieta no meu canto... E o que me resta é andar com fé, já que a fé não costuma falhar...

Será?