quarta-feira, 24 de junho de 2015

37 dias



ouvi esta estória ontem.

uma colega de trabalho foi viajar. antes de ir ela ligou para um amigo felicitando antecipadamente o aniversário de casamento dele com a esposa, 25 anos, e para desejar uma boa viagem de comemoração já que ele, pela primeira vez, conheceria a Europa com a parceira de vida.

minha colega ficou fora exatos 18 dias. na volta, estranhou ao receber mensagens da esposa do amigo falando que "ele estava tudo bem depois do susto". minha colega ligou para o amigo e ouviu o seguinte:

nestes 18 dias em que ela viajou, o amigo, de repente, começou a ter uma diarreia que não passava por nada do mundo. ele foi ao hospital, foi medicado e, como não tinha mais dores, foi mandado para casa.

após um dia inteiro muito mal, voltou ao hospital e fez exames mais completos.

ele estava com o estômago inteiro dominado por um tumor extremamente agressivo que já apresentava metástase em quase todos os órgãos do ventre.

como o tumor era muito agressivo, ele já tinha iniciado a quimioterapia rapidamente enquanto o resultado de outros exames chegavam.

a quimioterapia parou seus rins, únicos órgãos que ainda estavam intactos. e ele começou a fazer diálise.

"ele estava tudo bem depois do susto" foi o que a esposa dele disse me mensagens, ao dizer que ele estava no hospital e sem dores, medicado e vendo o que poderia ser feito.

foi descartada a quimioterapia, foi descartada cirurgia, havia a esperança de uma pílula experimental que poderia ser aprovada amanhã ou daqui a 20 anos.

ele descobriu sem querer que a pílula, na verdade, não existe e não existiria tão logo.

e na semana passada, após 37 dias desde que o amigo da minha colega começou a passar mal, ele desencarnou.

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fiquei chocada com esta estória. estou chocada com esta estória. porque fazemos tantos planos, achamos que "depois a gente resolve isso", deixamos para lá coisas que são sim importantes para nós por acharmos que "o tempo cuida de tudo".

fica para mim, além do choque, a reflexão. a vida é aqui e agora e TODO o resto é r-e-s-t-o. e todas as vezes em que eu estiver sofrendo por bobagem (já reparou como temos tendência a sofrermos por bobagem?), que eu me lembre desta estória. porque ele tinha planos, ele se preparou, ele ...

força aos que ficam, e que ele faça uma boa passagem. e que eu e você, que criamos sofrimentos voluntários e desconfortos díários, tenhamos CORAGEM de ser feliz.

porque a única certeza que temos é que um dia todos nós iremos... e nos esquecemos disso e achamos que ainda não chegamos sequer à metade do caminho, quando na verdade, esta única certeza vem com a única dúvida real => será?

(pare e pense => você tem sofrido por bobagem? você tem deixado para lá coisas que mais tarde resolverá? se você soubesse que daqui a exatos 37 dias você não teria mais como resolver suas pendências, o que você faria?

VOCÊ ESTÁ FAZENDO TUDO O QUE PODE PARA SER FELIZ A MAIOR PARTE DO TEMPO POSSÍVEL?)

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