segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Visão Externa


Ouvindo isto aqui...

É clichê, mas realmente acredito que algumas vezes é necessário se afastar da situação para ter uma perspectiva maior, uma visão macro da coisa. Deve existir alguma explicação para isto, só sei que comigo funciona. E neste meu período meio de molho, descobri programas ótimos que, no fundo, se encaixam neste contexto. Um se chama Clube dos Correspondentes e passa no GloboNews, o outro se chama Legião Estrangeira e passa na Cultura nos domingos á noite. Em comum, jornalistas estrangeiros que moram aqui dão suas impressões e opiniões. E é interessante ver os pontos de vista de quem vem de fora e tem uma visão mais distante de terras brasilis.

Um sueco que mora há 10 anos no Brasil disse que as palavras por aqui não são para valer. Sim, ele fala gírias e conhece cantos do país que eu nem sonhava que existia. Mas voltando às palavras, ele deu o seguinte exemplo: "brasileiro diz eu te amo mas você não sabe se é verdade mesmo. Na Suécia, as palavras tem peso: se você diz EU TE AMO é porque você ama mesmo. Aqui você fala "vamos marcar alguma coisa", mas a pessoa sai sem dar o telefone". Eu ri, porque é assim mesmo. Somos receptivos, até a página 2. Queremos saber da pessoa, nos aproximamos, mas tudo muito aéreo, nada certo e definitivo. Nunca tinha ouvido isto do ponto de vista de um estrangeiro.

Sim, estrangeiro. Gringo não. Para eles "gringo" é algo pejorativo, como alguém que você pode enganar, tolinho. E gringo é o turista de final de semana. A jornalista francesa disse que não sabe se confia em brasileiro, porque fazia uma semana que ela estava aqui e todos diziam que ela falava muito bem. Passou um mês, seis meses, um ano, e a frase era a mesma: "nossa, como você fala bem português". Disse ela: eu não falava bem após um mês. Ele não falou a verdade para não me ferir, mas ele poderia ter ficado em silêncio, que é o que ocorreria na Europa.

Ah, perguntaram o que eles achavam de ruim no Brasil. O sueco disse o transporte público. Disse que as distâncias nem são imensas, mas demora muito para chegar o trem, metrô, ônibus. A francesa disse educação e saúde. O melhor foi o jornalista português que reclamou da burocracia. Segundo ele, o cúmulo foi descobrir que documentos escritos em português de Portugal tem que ser traduzidos por tradutores juramentados aqui no Brasil. Ele mesmo riu e disse que não era piada de português.

Em comum: eles amam o país (ai não sei se estão falando da boca para fora como nós, né?). Acham as pessoas abertas e simpáticas, o clima ótimo. Só a francesa lembrou da insegurança no final do programa. Uma coisa que achei interessante: eles acham que o país tem jeito sim. Falta apenas vontade.

Espero estar eu errada então quando digo que não creio que aqui tem jeito. Espero que meu umbigocentrismo me atrapalhe a visão geral da coisa. E espero ainda estar viva para ver mudanças boas, sejam quais forem. Porque segundo meu pai, os bons são e sempre foram maioria, só não fazem tanto barulho...

Um comentário:

  1. Acrescentando um ponto ao comentário sobre a francesa falar bem português. No Japão, o pessoal adora dizer que você fala bem a língua: "Nihon-go jozo desu ne?!" Pois é, embora eu tivesse ciência que meu japonês nunca fosse bom de fato, um irlandês me deu uma ótima explicação sobre isso. Ele morava no Japão há mais de 10 anos (presidente da Mann) e eu comentei que ele deveria realmente falar muito bem japonês. Ao passo que me respondeu o seguinte: Sempre ouvi isso dos japoneses, mas, de uns 6 anos pra cá, nunca mais ouvi este elogio. Só então me dei conta que somente quando pararam de me dizer isso é que falava, de fato, bem. Talvez a mania de agradar com pequenas mentiras não seja uma característica exclusivamente tupiniquim :-)

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