sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Larápios disfarçados - a estória do "turco"

(Estória verídica contada na íntegra, só mudei o nome da protagonista. E as palavras usadas são as mesmas ditas pela dona Zenaide. Ela que dizia isto, não eu...)


"As  mentiras mais cruéis são frequentemente ditas em silêncio." (Robert Stevenson)


Fui ao médico estes dias e, enquanto esperava na fila, uma senhorinha super simpática começou a falar comigo. Disse que ia naquele médico há tempos, que vários da família se cuidavam sempre porque havia histórico de infarto fulminante na família, que os exames dela estavam ótimos, etc. etc. etc. Dai ela virou para mim e começou a falar da sobrinha que morava nos EUA e que era para nós, mais jovens, tomarmos cuidado com "os turcos da vida".

A sobrinha tinha ido para lá aos 17 anos, fazer intercâmbio. Durante a viagem, o pai dela faleceu de infarto. A menina ficou muito, muito triste e decidiu ficar por lá mesmo, onde fez "um curso tipo faculdade" na área de enfermagem e trabalhava lá, vivia por lá, já há muitos anos.


"Mas eis que ela conheceu um turco por lá. Sabe estes turcos que são daqueles lados? Não sei se é turco, asiático, europeu, é daqueles lados. Come kibe (ela dizia isto com frequência). E minha sobrinha, enquanto não regularizava o visto por causa do trabalho, começou a namorar o turco. E o turco sugeriu que eles fossem morar juntos, já que assim só pagariam um aluguel. E disse que, olha como ele é bonzinho, enquanto ela arrumava as coisas do visto ela poderia usar a conta dele para depositar o salário dela até eles completarem para comprar uma casa. Meu Deus, que sorte da minha sobrinha, tão sofrida tadinha, encontrou alguém bom, que cuidaria dela...


E minha sobrinha arrumou o visto mas, bom, já que dava certo, continuou depositando o salário na conta bancária do turco. E assim foi, ela trabalhando de sol a sol em uma casa de repouso - NÃO 

É ASILO, dona Zenaide era enfática -, ganhando seus obamas e depositando na conta. Do turco.

Um dia, após oito anos, o turco não dormiu em casa. Disse que trabalharia até mais tarde - ele era mecânico - e era para ela não se preocupar. OITO ANOS. Amanheceu, ela ligava e dava caixa postal, deu meio-dia. Nada. Foi ao trabalho dele ao final do dia, já com um arrepio de medo na nuca, temendo o pior. Chegou lá e soube que desde ontem o turco não aparecia. Ela saiu de lá e foi correndo ao banco. OITO ANOS DE SALÁRIO PARA COMPRAR UMA CASA, lembra? Ela chegou lá e não havia um único centavo deixado para trás.


(Não sou médica, mas enquanto a coisa fluia a tiazinha começou a arfar e ficar vermelha. Até levantei para pegar água para ela, mas ela não parava de falar.)


Por isso, filha, tome cuidado com os turcos."


Ouvindo a estória, soube exatamente o que a sobrinha da dona Zenaide passou e sentiu. Sei o que é ter "um turco", por oito anos, ao seu lado, sem dar pinta nem nada, e um dia sumir levando tudo o que conseguiu durante este tempo (e isto é apenas uma parte ínfima da estória). Sei o que é acreditar e, do nada, jogarem a verdade na sua frente. Sei o que ela sentiu. E se eu hoje sou um pitbull com os que se aproximam, parte é por culpa do merda do rato que agiu como "o turco". Porque eles existem, amores... E se escondem em todas as raças, cores, credos e sorrisos mentirosos. Então fiquem atentos. Vocês acham que, por vocês serem verdadeiros nos falares e sentires, os outros também são. Só que o que mais tem por ai é lobo em pele de cordeiro. Ou de "turco"...


PS- é desnecessário, mas só para constar: nada contra "turcos", os personagens principais desta estoria. Mas tudo contra gente de merda que existe por ai. A vocês, um beijo e o desejo ululante de dizer VTNC!

3 comentários:

  1. muito triste que exista gente assim, ka.

    na boa, eles não entenderam nada. de nada.

    beijosumidoesaudoso

    iza =)

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  2. Ótimo blog!

    Bjs
    Aline
    http://www.devaneiosdemadrugada.com.br/

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