terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sessões de Terapia ou Julgando um Livro pela Capa


Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. (Carlos Drummond de Andrade, no Mania de Citar)

Já aviso que terá spoiler, continue a ler por sua conta e risco.

Sou antissocial assumida, e para isto ocorrer significa que eu fico bem comigo mesma (uia). Pois bem, uma das coisas que mais gosto de fazer quando estou sozinha é ler. E outra é ver TV. Quando o programa é tosco eu simplesmente ignoro, mas tem outros que eu faço questão de assistir. Um deles é o Sessão de Terapia, do GNT.

A paciente das segundas desta 3ª temporada é a Bianca. Durante as quatro primeiras sessões, vemos Bianca dizendo que era constantemente agredida pelo marido, um mecânico que agora, por ciúme, começou a agredir o filho deles. O 4º episódio é bem pesado, com ela chegando ao consultorio bem machucada das surras.

Ai ontem, no horário marcado, o terapeuta abre a porta e quem está lá é... o marido!

Pausa dramática.

O terapeuta tem medo de fechar a porta com o espancador lá dentro, e este só quer saber onde está sua mulher e seu filho.

O decorrer do episódio é de cair o queixo: simplesmente TUDO o que a Bianca descreveu e disse nos episódios anteriores era m-e-n-t-i-r-a. Ela disse que Théo (o terapeuta) era o primeiro psicólogo que ela procurava (o marido disse que não), que os pais estavam mortos (o marido deu até os contatos telefônicos deles), e por ai vai.

O marido não é mecânico, o ciúme não é dele. E, pelo que ele disse, ela sempre ameaçou se matar caso ele pedisse a separação, mas ultimamente ela ameaçava matar outra pessoa (o filho?).

Ao final do episódio, o terapeuta liga para um ex-psiquiatra da Bianca, e pela cara dele vemos que provavelmente tudo o que o marido disse era verdade (estou inferindo, minha interpretação, ok?).

Pausa e volta para a sua vidinha!

O que me chocou neste episódio - e a palavra é CHOQUE mesmo - é o fato de nós traçarmos ideias pré-concebidas a partir de outros. E se essa pessoa tiver um jeitinho e carinha de anjo, compramos a ideia assim, sem nem pensar. Aceitamos o que este anjinho fala sem questionamento, e muitas vezes compramos a briga da pessoa sem ouvir a outra parte. Nos esquecemos do básico: as pessoas mentem. E muitas são, além de mentirosas, dissimuladas.

Uma coisa que aprendi com a minha ex-terapeuta Tiarinha é que aquele ditado "não me meça pela sua regra" é muito mais profundo do que imaginamos. De uma forma bem limitada, seria algo como: se eu não roubo, acho que ninguém rouba. Se eu faço X, acho que todos também o fazem. Tendemos a ver com bons olhos os "parecidos" conosco, e a antipatizar com aqueles que pensam/são diferentes de nós.

Só que nos esquecemos que existem aqueles que se mostram como mais lhes convem. Que choram se isto for bom para suas plateias, que gargalham de sair lágrima dos olhos quando necessário e são os mais amigos nas horas inesperadas. Tudo em prol... deles próprios.

Aliados ao nosso esquecimento de que estas pessoas existem, nos esquecemos de como elas são perigosas. Sim, perigosas, porque, no fundo, não sabemos do que elas são capazes. Não sabemos quem elas são. Dai você diz "ah, fulano não faria isso". ERRADO! Talvez VOCÊ não fizesse isso e acha que o mundo também não faria, mas isto é medir o mundo pela sua régua.

O episódio de ontem mexeu demais comigo. Eu já fui vítima de pessoas dissimuladas mentirosas. Mas eu descobri a tempo isso, e me livrei daquela praga. Só que é a tal coisa: e os que a gente sequer imagina? E os "acima de qualquer suspeita"?

Mais do que medo, acho que o programa me serviu de aprendizado e alerta. Parabéns à @jaquelinevargas por criar os textos e roteiros. E que ninguem me procure no horário do programa na próxima semana, porque só atenderei se for para receber dinheiro.

E que nós sempre nos lembremos de que as coisas e as pessoas nem sempre são o que parecem...

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