quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A Vida dos Outros - Queda do Muro de Berlim



(spoiler alert mode on)

Domingo comemorou-se os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Quando eu estava na escola o mundo era um, Perestróika e Gorbachov eram palavras que impunham respeito e tudo aquilo implodiu em uma noite - pelo menos para quem se lembra do Pedro Bial falando direto de Berlim, com as pessoas marretando o muro ao fundo (parênteses, eu lembro o/). Para celebrar a data, algum jornal deu dicas de filmes que representavam aquela época. E foi nessa que assisti a um dos melhores filmes que já vi na vida!

Das Leben der Anderen (A Vida dos Outros), Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, é um filme emocionante que conta a estória de um funcionário da Stasi (polícia secreta alemã) durão, seguidor das regras, totalmente engessado na vida e que, ao ficar responsável por escutar as conversas e ver os vídeos de gadgets instalados clandestinamente na casa de um diretor de teatro e sua namorada atriz, percebe que talvez ele esteja errado, e que talvez os "subversivos" não fossem de todo tão maus assim...

As cenas iniciais do filme me ensinaram muito. Um aluno do curso de agentes da Stasi pergunta porque às vezes são feito interrogatórios longos sem pausas, já que isto parecia ser tortura (lembre-se que eles se achavam certo, estavam livrando o mundo dos inimigos infiltrados que, digamos, apenas pensavam diferente deles). Resposta: quando as pessoas mentem, elas sempre dizem as mesmas palavras e frases, porque foi isto que elas "decoraram" para consubstanciar a mentira. Quem fala a verdade, apos um tempo, explode, grita, xinga, porque o sentimento de injustiça grita dentro dele e ele não está mentindo. Já quem mente, sustenta a mesma estória com as mesmas palavras por horas, até dias. Então se o julgamento interrogatório bate-papo é longo, uma hora, pelo cansaço, ele quebra (fica a dica).

Na verdade, o filme é brilhante em tantos aspectos que é difícil enumerar um. Começa pelo auto-questionamento sobre nossas convicções enraigadas, onde a pessoa percebe que não é porque ela tem uma opinião formada que ela é detentora da verdade universal, passando pela descoberta de que todos estamos lutando nossas pequenas lutas diárias, lidando com os revezes da melhor forma possível. Discute a questão do "até que ponto você iria pela sua arte"? Até que ponto você iria para manter o que você ama? Por que, vamos lá, falar é apenas dizer que faria isso ou aquilo, mas quando a coisa engrossa, talvez ajamos de forma totalmente inesperada...

Vale a indicação, a reflexão,  o questionamento sobre o que é viver sob o medo. Em tempos de "nós x eles" que ficou após a eleição e a ideia de que podemos ser espionados a qualquer momento, o filme mostra alguns aspectos que podem nos ser úteis. Será que somos espionados e não sabemos? Será que o outro está tão errado assim apenas por pensar diferente de mim? Será que devemos aceitar passivamente tudo o que nos é imposto? Será que os fins justificam os meios?

Sem contar que o ator mais lindo da galáxia está no filme. (Deuses, aproveitando o ensejo, me mandem um desses se estiver disponível. Obrigada!)

No fim, fica o aprendizado. Todas as nossas ações tem reações, e por mais que calculemos tudo, o que vem de resposta pode ser algo absolutamente imprevisível, mesmo que todas as precauções tenham sido tomadas. Mesmo que o ensejo inicial fosse ajudar alguém. Então lembrem-se: todas as nossas ações geram reações em outras pessoas, e vice-versa. E por mais que estejams bem intencionados, não controlamos o outcoming. Podemos apenas torcer e esperar pelo melhor. E lidar com as consequências de atos que, muitas vezes, ocorreram de forma em que não éramos e jamais fomos, sequer, os atores principais. Isto é viver. Ou sobreviver, dependendo do ponto de vista...

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